
Petit Pois e Nossos Tempos Turbulentos
Os clássicos nunca morrem, eles se reinventam. E o retorno triunfal do petit pois (ou poá, como conhecemos no Brasil) nas passarelas e coleções de 2025 é muito mais do que um simples flerte com o passado. Essa estampa icônica, tão ligada aos anos 1950, carrega consigo um código visual complexo que, quando revisitado hoje, nos força a refletir sobre o mundo em que vivemos.
Anos 50: Um Olhar para o Passado e Suas Amarras
Imagine o cenário pós-Segunda Guerra Mundial: um mundo em busca de ordem, e uma sociedade com um forte impulso conservador. As mulheres, que haviam sido peças-chave na força de trabalho durante o conflito, eram agora incentivadas a retornar ao lar, encarnando o ideal da “boa esposa e mãe”. A moda da época refletia esse ideal com uma estética impecável e romanticamente feminina.
O petit pois, com sua delicadeza, repetição e simetria, tornou-se o emblema visual dessa domesticidade organizada. Pense em saias rodadas, cinturas marcadas e um visual comportado que ecoava o desejo por controle, tradição e previsibilidade em tempos de Guerra Fria e tensões geopolíticas. Era uma moda que, de certa forma, reafirmava papéis sociais e femininos mais delimitados.

Da Cultura Pop às Passarelas: O Petit Pois Ressurge
A cultura pop, como sempre, funciona como um termômetro de tendências e sentimentos coletivos. A aguardada nova adaptação do Quarteto Fantástico, que nos levará de volta aos anos 1950 com sua narrativa de uma “família de super-heróis” em um cenário de valores tradicionais, não é uma coincidência. Essa revisitação de uma estética e de um conjunto de ideais, mesmo que sob uma nova perspectiva, ressoa com o que vemos na moda.
Não é por acaso que, simultaneamente, o petit pois ressurge nas coleções. Ele atua como uma ponte visual entre o passado e o presente, mas com uma diferença crucial: a reinterpretação.

Por que o Poá é tão Relevante em 2025?
Vivemos em um período de turbulência e incerteza. As transformações políticas aceleradas, os avanços tecnológicos exponenciais, as guerras de informação e a polarização ideológica geram um sentimento de caos. Nesse cenário, a moda, como um espelho do inconsciente coletivo, busca refúgio e conforto em códigos visuais históricos.
A simetria e a suavidade do poá oferecem um ponto de respiro, uma sensação de ordem em meio à desordem. No entanto, o petit pois de 2025 não é mais sinônimo de passividade ou delicadeza ingênua. Ele surge em looks oversized, com cortes desconstruídos, ou em contraste ousado com alfaiataria moderna.
Isso revela uma mulher (e um homem) que não apenas resgata o passado, mas o subverte. O poá hoje é um símbolo de um empoderamento que reconhece suas raízes, mas que se recusa a ser aprisionado por elas

Do Delicado ao Disruptivo: Um Novo Discurso
O retorno do petit pois é um lembrete poderoso de que a história se repete, mas a forma como a interpretamos e usamos cabe a nós. Se nos anos 50 ele falava de controle e de uma feminilidade contida, agora ele se torna uma ferramenta de expressão. Pode ser irônico, subversivo, ou simplesmente uma celebração da beleza clássica com um toque contemporâneo.
Assim como o Quarteto Fantástico promete recontar uma história antiga com uma nova lente, a moda utiliza o petit pois para revisitar visualmente a trajetória feminina, agora com mais camadas, mais liberdade e, fundamentalmente, mais poder de escolha. É a prova de que a moda não é apenas tecido e tendência, mas um reflexo potente das nossas aspirações e do espírito do tempo.








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Aline Schambakler
Especialista em Desenvolvimento de Negócios de Moda e Líder de Produto & Merchandising, Aline tem mais de 15 anos de experiência no mercado, atuando em grandes marcas como Shein, Amaro, Bob Store e Siberian.