consumir é existir

Durante muito tempo, tratamos o ato de consumir como algo banal, quase automático. Um gesto prático, cotidiano, associado a necessidades ou desejos. Mas o tempo nos mostrou que o consumo nunca foi neutro. Ele revela. Aponta. Denuncia. Explica.

Se outrora acreditávamos que bastava colocar o consumidor no centro das estratégias, hoje percebemos que o próprio consumo ocupa esse lugar.

Afinal, mais do que observar quem consome, precisamos compreender como, por que, o que, quando e com que intenção se consome. O consumo se tornou um campo semântico, simbólico e político. Ele fala sobre pertencimento e exclusão, sobre liberdade e condicionamento, sobre presente e futuro.

 

“o consumo fala sobre pertencimento e exclusão, sobre liberdade e condicionamento, sobre presente e futuro.”

 

E é exatamente por isso que olhar para o consumo com profundidade exige mais do que análise de dados e segmentações de público. É preciso interpretar comportamentos, entender contextos e mergulhar nas camadas subjetivas que permeiam cada escolha.

Vivemos em um ecossistema onde quase tudo é passível de consumo: do que vestimos ao que sentimos, dos aplicativos que usamos aos valores que adotamos. O consumo não apenas responde às transformações da sociedade, mas também as provoca.

 

Audrey Marnay by Steven Meisel

Quando o mercado muda, o que ele está dizendo sobre nós?

 

Empresas que nascem, crescem ou desaparecem sinalizam mudanças no tecido social. Blockbuster e Kodak, por exemplo, não falharam apenas por questões tecnológicas, mas por não compreenderem o comportamento em mutação.

 

E o que é, afinal, o ato de consumir?


É adquirir, usar, descartar. Mas também é pertencer, afirmar, performar e resistir. O consumo pode ser resistência silenciosa ou adesão ruidosa. Pode reforçar desigualdades ou tentar diminuí-las. Pode expressar a busca por identidade ou o desejo de desaparecer na multidão.

Hoje, há quem consuma para ser visto. E há quem escolha não consumir como forma de protesto ou autodefinição. O não-consumo também é uma narrativa.

Por isso, pensar em estratégias centradas apenas em personas e métricas é uma abordagem cada vez mais limitada. Precisamos ir além. Precisamos decifrar as contradições que fazem parte desse processo. Porque consumir é também um jogo de forças: entre o desejo e a culpa, o excesso e a escassez, o individual e o coletivo.

Hoje, vemos o avanço de tecnologias ligadas à inteligência artificial, à longevidade, à mobilidade urbana, à saúde estética e à ecologia regenerativa. Cada tendência de mercado é, também, uma lente para ler a sociedade com suas obsessões, angústias e aspirações.

 

foto de @kykareka

Estamos falando de consumo como espelho.

 

E espelhos, como sabemos, não mostram apenas o que queremos ver.

A nova centralidade do consumo exige de nós um novo olhar. Um olhar ético, amplo, provocador. Que entenda que os bens materiais carregam ideias imateriais como status, gênero, ancestralidade, futuro, corpo, território e poder. Entender o consumo hoje é entender o mundo  e, de certo modo, a si mesmo.

 

Até o próximo Insight.

 

Beijinhos, Lucia.

Quer continuar trocando ideias sobre comportamento e consumo? fale diretamente com a colunista lucia@fashionologia.com

Estrategista de Marca, trabalha com ferramentas de Consumer Insights, Foresight Estratégico, Design Thinking e Branding. Há duas décadas ajuda marcas a serem mais criativas, estratégicas e inovadoras, com uma metodologia que traduz mudanças de comportamento em recomendações, conceitos e execuções acionáveis.

Somos uma consultoria especializada em fashion business que de forma estratégica une criatividade, inteligência de mercado e excelência para impulsionar negócios de moda de forma integrada.

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