
A Revolução do Shopping por IA
Atenção, varejistas! Se você acha que seu site lindo e cheio de animações é o suficiente para atrair clientes, talvez seja hora de repensar sua estratégia. A Inteligência Artificial (IA) está mudando radicalmente a forma como as pessoas compram online, e se sua loja não estiver preparada para falar a “língua” da IA, ela pode ficar invisível para a próxima geração de consumidores.
Quando Seu Site Fica “Invisível” para a IA
Pare e pense: seu site de e-commerce é uma obra de arte com carrosséis de imagens, menus dinâmicos e pop-ups? Ótimo para humanos. Mas para os grandes modelos de linguagem (LLMs) que rodam o ChatGPT e outras IAs generativas, muitos desses elementos simplesmente não existem. Por que? Porque eles são frequentemente escritos em JavaScript, uma linguagem que, por enquanto, a maioria das IAs ainda tem dificuldade em processar.
Isso era irrelevante quando a IA era só para escrever e-mails. Mas o jogo mudou. Startups e gigantes da tecnologia estão usando essa tecnologia para ajudar os usuários a pesquisar, comparar e até finalizar compras automaticamente. Sim, você leu certo: agentes de IA podem navegar no seu site, adicionar itens ao carrinho e concluir o checkout em nome do cliente. O Google, por exemplo, já tem um agente que compra um produto quando o preço cai para o valor desejado pelo usuário.
“Uma grande parte do seu site pode ser, na verdade, invisível para um LLM desde o início”, alerta A.J. Ghergich, vice-presidente global da Botify, uma empresa que ajuda marcas como Christian Louboutin a garantir sua visibilidade para a IA.
Os números não mentem: varejistas nos EUA viram um salto de 1.200% nas visitas de fontes de IA generativa entre julho de 2024 e fevereiro de 2025 (Adobe Analytics). A Salesforce prevê que plataformas e agentes de IA movimentaram US$ 260 bilhões em vendas online globais só na próxima temporada de festas. Essa tendência, embora ainda em fase inicial, aponta para um futuro onde a IA impulsionará grande parte da atividade online.

De SEO para GEO e AEO: A Nova Regra do Jogo
Prepare-se para uma virada no marketing digital. Se antes o foco era SEO (Search Engine Optimization), ou seja, aparecer no topo do Google, agora a conversa é sobre GEO (Generative Engine Optimization) ou AEO (Answer Engine Optimization). O objetivo é chamar a atenção da IA que está respondendo à pergunta de um usuário.
Mas como? Não existe uma fórmula mágica, e até mesmo as empresas de IA admitem que o ranqueamento de produtos ainda é um mistério em muitos aspectos. No entanto, algumas pistas são claras:
Conteúdo Rico e Estruturado: Produtos com descrições detalhadas e dados bem organizados (como nos feeds do Google Merchant Center) têm vantagem. A IA “lê” esses dados estruturados antes mesmo do HTML do seu site.
Avaliações e Conversas Online: Marcas com programas robustos de avaliação de clientes e que investem em marketing de influência (mesmo com microinfluenciadores) geram mais conteúdo e discussão. Isso é ouro para os LLMs, que “absorvem” essas interações.
Essa mudança pode reformular o cenário da publicidade online. Anúncios chamativos e gráficos, eficazes para humanos, podem ser ignorados pelos agentes de IA. Isso forçará os varejistas a redistribuírem seus orçamentos de publicidade, investindo mais em “IA search”. Mesmo a OpenAI, que já teve seu CEO declarando aversão a anúncios, está explorando essa via de receita. O desafio será “aparecer para os consumidores quando os formatos de anúncios tradicionais são contornados pelos agentes de IA”, como aponta Sky Canaves, da Emarketer.
“O desafio será “aparecer para os consumidores”
Os Bots Agora São “Bons”: Desafios no Checkout
A nova realidade dos agentes de IA traz um paradoxo para os varejistas. Por um lado, esses bots podem ser a solução para o problema crônico do abandono de carrinho, tornando o processo de compra mais fluido. O cliente diz “compre para mim” e o bot faz o resto.
Por outro lado, a maioria dos sites não foi criada para que bots comprem. Pelo contrário, foram construídos para impedir bots mal-intencionados que roubam estoque (como em vendas de tênis e ingressos). “Muito tempo e esforço foram gastos para manter as máquinas fora”, destaca Rubail Birwadker, da Visa. Isso significa que sites podem bloquear transações feitas por bots, frustrando o cliente e a venda.
Empresas de pagamento, como a Visa com seu programa Intelligent Commerce, estão correndo para criar métodos que permitam que agentes verificados façam o checkout sem comprometer a segurança. A ideia é distinguir “bots bons” de “bots ruins” por meio de verificação de credenciais e biometria. No entanto, ainda há desafios como campos de login que podem travar os agentes.

A Realidade Brasileira: Um Horizonte a Ser Desbravado
No Brasil, a revolução do shopping por IA ainda está engatinhando, mas com um potencial imenso. As visitas de IA a sites de varejo, embora em crescimento, ainda não atingiram o volume visto em mercados como o dos EUA. No entanto, a Geração Z brasileira, que já usa IA para estudos e trabalho, mostra um interesse crescente em aplicá-la para compras, 63% dos jovens entrevistados pela Salesforce globalmente demonstram essa inclinação.
Como essa nova modalidade pode impactar o mercado brasileiro?
Prioridade para Dados Estruturados: Varejistas brasileiros precisarão investir urgentemente na qualidade dos dados de seus produtos. Descrições claras, especificações padronizadas e integração eficiente com plataformas como o Google Merchant Center serão cruciais para que a IA “entenda” o que está sendo vendido.
Revisão das Estratégias de SEO: O tradicional SEO focado em palavras-chave para humanos precisará se adaptar ao GEO/AEO. As empresas de marketing digital no Brasil devem começar a desenvolver expertise em otimização para motores de IA, focando em como as respostas da IA serão formuladas para os usuários.
Inovação nos Meios de Pagamento: Parcerias com empresas de tecnologia de pagamento, como a Visa, serão essenciais para habilitar transações fluidas por agentes de IA, garantindo segurança e evitando bloqueios.
Crescimento do Conteúdo Gerado pelo Usuário: Para que a IA “perceba” e promova produtos, o engajamento do consumidor em avaliações e discussões online será mais valioso do que nunca. Isso deve impulsionar o investimento em programas de fidelidade e incentivo a reviews.
Desafio para Pequenos e Médios Varejistas: A adaptação à IA exigirá investimentos em tecnologia e conhecimento. Os pequenos e médios varejistas brasileiros precisarão de soluções acessíveis e intuitivas para não serem deixados para trás, talvez impulsionando o surgimento de plataformas ou agências especializadas.
Oportunidade para Personalização Extrema: Agentes de IA podem aprender as preferências do consumidor em um nível muito mais profundo, oferecendo recomendações ultra-personalizadas. Varejistas que souberem aproveitar essa capacidade terão uma vantagem competitiva gigantesca no Brasil, um mercado ávido por conveniência e ofertas sob medida.
O Futuro Já Bate à Porta
É inevitável: as transações comerciais via IA, impulsionadas por agentes autônomos, se tornarão uma parte consistente do cenário online. Para os varejistas brasileiros, o momento de agir é agora. Ignorar essa transformação significa correr o risco de ficar obsoleto em um mercado cada vez mais dominado pela inteligência artificial. Adaptar-se não é uma opção, é uma necessidade para garantir que sua marca seja “vista” no futuro do consumo.
Sua loja está pronta para conversar com a IA?
Aline Schambakler
Especialista em Desenvolvimento de Negócios de Moda e Líder de Produto & Merchandising, Aline tem mais de 15 anos de experiência no mercado, atuando em grandes marcas como Shein, Amaro, Bob Store e Siberian.